Bureau de Inteligência Competitiva do Café gera informações estratégicas para o agronegócio café no Brasil

Qui, 18 de Setembro de 2014 16:02
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O Bureau, localizado na Universidade Federal de Lavras- UFLA, conta com apoio e parceria do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café

O agronegócio café é uma das atividades que se destaca historicamente na balança comercial brasileira com expressiva geração de divisas. Mesmo hoje dividindo espaço com outros produtos agrícolas e industriais, o café continua tendo importante papel socioeconômico no País. Mas, como qualquer outro negócio, é preciso que a cafeicultura busque constantemente a inovação e a inteligência competitiva no campo da pesquisa e desenvolvimento e em todos os elos da produção e comercialização do produto. É necessário (ante)visão de novas tendências, oportunidades e desafios dos Cafés do Brasil, para que o País mantenha participação crescente no mercado mundial.

O Brasil vem se mantendo, há mais de um século, como o maior produtor e exportador de café. Recentemente, a busca por inovação e competitividade passou a fazer parte de todos os elos do agronegócio café no País. A imensa variedade de alternativas (coado, monodose, cápsulas, solúvel, novos produtos à base de café etc.) de consumo da bebida, para mercados cada vez mais exigentes, é um reflexo das novas tendências. Nesse contexto, a inteligência competitiva do setor cafeeiro, por sua vez, vem ganhando força.

Para falar sobre inovação e inteligência competitiva do café, a Embrapa Café entrevistou Luiz Gonzaga de Castro Júnior, professor e assessor de Inovação e Empreendedorismo da Universidade Federal de Lavras – UFLA, uma das dez instituições fundadoras do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café. Luiz Gonzaga tem graduação e mestrado em Administração pela Ufla e doutorado em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo – USP. É ainda coordenador do Centro de Inteligência em Mercados (CIM), pesquisador líder do Bureau de Inteligência Competitiva do Café, coordenador de projetos vinculados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Café (INCT-Café) e ao Polo de Excelência do Café (PEC - Secretaria de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais), editor executivo da revista Coffee Science e consultor ad hoc da revista Organizações Rurais & Agroindustriais.

 

Embrapa Café: O que motivou a criação do Centro de Inteligência de Mercados – CIM da UFLA, qual sua missão, com quais produtos trabalha e principais objetivos?

Luiz Gonzaga: A principal motivação para a criação do CIM, em 2002, foi a constatação de uma carência de inteligência voltada para o agronegócio. Não falo de inteligência como cognição, mas da criação e difusão de conhecimento relevante para os participantes do agronegócio, especialmente nas áreas de gestão e economia. E é essa a missão do CIM. Passados 12 anos, noto que a agricultura brasileira ainda precisa muito de soluções de gestão e inteligência competitiva. Nós temos essas soluções e estamos trabalhando para que elas alcancem número cada vez maior de produtores. O principal produto de trabalho do CIM é o café, que possui grande importância econômica para o estado de Minas Gerais, onde nos encontramos. Mas o CIM também possui trabalhos com outras culturas como cacau, laranja, maçã etc.

 

Embrapa Café: E em relação ao Bureau de Inteligência Competitiva do Café, qual seu principal foco de atuação e produtos gerados? Como são disponibilizados esses produtos aos interessados?

Luiz Gonzaga: O principal foco de atuação do Bureau é a geração e distribuição de informações estratégicas para todos os elos da cadeia produtiva do café. Existe muita informação relacionada ao café circulando pelo mundo, mas grande parte desse conteúdo não chega até os cafeicultores, pesquisadores e empresários brasileiros. Isso ocorre porque essas informações estão dispersas pela internet e, em sua grande maioria, em inglês. Nossa equipe seleciona e analisa essas informações, que são publicadas mensalmente no Relatório Internacional de Tendências do Café. Este, por sua vez, pode ser acessado gratuitamente no site do Bureau (www.icafebr.com) ou enviado por e-mail. Nesse caso, o interessado deve solicitar cadastro enviando uma mensagem para Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. .

 

Embrapa Café: Quais as principais fontes do Bureau de Inteligência Competitiva do Café, como é feita a coleta de dados, as análises e interpretações.

Luiz Gonzaga: A equipe de analistas do Bureau busca informações em sites de notícias do mundo todo. Nós dividimos o trabalho em três áreas principais que são produção, indústria e cafeterias/consumo, cada qual com o seu próprio grupo de analistas. Eles selecionam as notícias mais relevantes em meio ao imenso número que é publicado semanalmente e utilizam esse conteúdo para elaborar análise para cada uma das três áreas. Essas análises não são simples resumos das notícias coletadas, mas envolvem a identificação de tendências relevantes e a construção de novos conhecimentos. Antes de ser publicado, o texto do Relatório Internacional é discutido por todos os membros do Bureau, que fazem correções e sugestões para melhorar a qualidade do material.

 

Embrapa Café: Em um cenário de mercado de café de grande volatilidade, o que representa ter um grupo para pensar estrategicamente a atuação do Brasil no mercado cafeeiro, gerando e divulgando informações e construindo cenários?

Luiz Gonzaga: A grande volatilidade do mercado é condição intrínseca do seu funcionamento. Apesar disso, os preços exibem padrões de comportamento de médio e longo prazo, que são chamados de tendências. Elas podem ser de alta ou de baixa e refletem os fundamentos do mercado, que são as variáveis de maior peso, tais como a relação entre oferta e demanda, problemas climáticos nas regiões produtoras, estratégias das indústrias e novos hábitos de consumo. Os relatórios do Bureau contribuem justamente com esse aspecto fundamental da formação dos preços, pois oferecem visão ampla sobre as estratégias dos principais concorrentes brasileiros, os novos produtos da indústria e as preferências dos consumidores. Com essas informações, o setor cafeeiro nacional pode tomar decisões bem fundamentadas, planejar estratégias defensivas diante de ameaças e criar planos para explorar oportunidades.

 

Embrapa Café: De que forma o ensino, a pesquisa e a extensão da UFLA contribuem direta e indiretamente para o trabalho do Bureau de Inteligência Competitiva do Café?

Luiz Gonzaga: A UFLA é uma das melhores instituições de ensino superior do País e isso contribui diretamente para o sucesso do Bureau. Nossa equipe de analistas é formada por pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação que utilizam o conhecimento recebido da instituição para realizar as análises. Existe também uma sinergia entre esses estudantes, de forma que os graduandos podem participar dos projetos de teses e dissertações no âmbito do Bureau para desenvolver pensamento mais crítico e vislumbrar possibilidades de inserção em pós-graduação. Ao mesmo tempo, a Universidade realiza anualmente diversos eventos técnicos e científicos sobre o agronegócio café que são ótimas oportunidades para aquisição de conhecimento dos integrantes do Bureau, bem como para divulgação do nosso trabalho. Muitas vezes algum membro do Bureau participa desses eventos, apresentando nossos dados para um público seleto e tendo a oportunidade de ouvir suas opiniões.

 

Embrapa Café: Nesse mesmo contexto, de que forma as entidades participantes do Consórcio Pesquisa Café também contribuem para o Bureau?

Luiz Gonzaga: Todo o trabalho do Bureau não seria possível sem o apoio da UFLA, que é fundadora do Consórcio Pesquisa Café. Além do espaço físico, a Universidade conta com excelentes profissionais da área de cafeicultura que podem nos ajudar com questões técnicas e feedbacks das nossas análises, de modo que elas possam sempre melhorar. O Consórcio Pesquisa Café, por sua vez, terá cada vez mais importância para o Bureau. O projeto financiado pelo Consórcio para manutenção do Bureau pelos próximos quatro anos foi aprovado no último edital da Embrapa/Consórcio. Trata-se de algo fundamental para a continuidade dos trabalhos do Bureau e para sua ampliação. Além disso, espero que o CIM possa desenvolver novos projetos em parceria com todos os membros do Consórcio, combinando as competências de cada um para a criação de inovações e soluções para a cadeia produtiva do café.

 

Embrapa Café: No campo da produção, quais os principais concorrentes do Brasil que o Bureau aponta na atualidade e no futuro próximo e suas vantagens competitivas em relação ao nosso País? 

Luiz Gonzaga: Nossos dois maiores concorrentes são o Vietnã e a Colômbia. O Vietnã é o maior produtor mundial de Coffea canephora P., também conhecido como robusta, espécie mais resistente e produtiva do que o Coffea arabica L. produzido no Brasil e na Colômbia. Por ser um grão mais barato, a demanda da indústria por robusta é crescente, já que seu maior uso gera redução no custo final do café industrializado. Existem novas tecnologias que permitem elevar a qualidade da bebida obtida a partir do café robusta, o que é um fato novo e que precisa ser acompanhado. Além disso, os mercados consumidores com maior potencial de crescimento estão na Ásia, o que vai favorecer, devido principalmente aos custos logísticos, o consumo de grãos da própria região. A Colômbia, por sua vez, está em ótimo momento. Após duas décadas de quedas sucessivas na produção, o volume colhido no País voltou a crescer e isso é resultado de um grande programa de renovação das lavouras. A recuperação da produção colombiana veio em ótimo momento, já que a cotação do café subiu muito nos últimos meses. O café colombiano possui boa imagem no mercado e agora a produtividade deve aumentar com as novas lavouras, reduzindo os custos de produção e melhorando a rentabilidade. Deve-se ressaltar também a produção africana, que possui grande potencial de crescimento. Os governos de vários países do continente estão investindo em pesquisa e renovação de lavouras, o que pode aumentar a produção nos próximos anos. Mas, por enquanto, os efeitos reais dessas medidas são incertos. Várias empresas também estão investindo lá, criando programas de apoio aos cafeicultores. A África possui um apelo social muito grande, o que leva muitas empresas a preferirem gastar com ações sociais lá do que aqui no Brasil.

 

Embrapa Café: No cenário altamente competitivo da cafeicultura, como os diferentes atores do agronegócio café devem agir para promover a inovação e a competitividade do setor?

Luiz Gonzaga: O caminho talvez esteja em soluções locais para problemas locais. A cafeicultura brasileira é muito heterogênea, cada estado e cada região possuem características distintas. São muitas variáveis a serem levadas em consideração por qualquer política que vise solucionar os problemas da cafeicultura. Por isso acreditamos que cada região precisa se organizar para resolver os seus problemas, já que ninguém conhece melhor a sua própria realidade do que os cafeicultores locais. A região do Cerrado Mineiro, por exemplo, faz isso há duas décadas e é hoje um exemplo de organização e desenvolvimento, tanto em tecnologia quanto em marketing e comercialização. As outras regiões precisam seguir um caminho parecido e muitas já estão nesse rumo. Outro exemplo notável é o Espírito Santo, com sua cafeicultura de conilon. Ao buscar enfrentar os desafios pertinentes à produção local, as lideranças da cafeicultura capixaba estão alcançando resultados impressionantes.

 

Embrapa Café: Os consumidores estão cada vez mais exigentes por qualidade do produto, praticidade e segurança alimentar. Quais as principais estratégias a serem desenvolvidas pelo setor cafeeiro como um todo para atender o consumidor?

Luiz Gonzaga: Atualmente, as pessoas gastam grande parte do seu dia em atividades como transporte, trabalho e estudo. Por esse motivo, não possuem tempo para preparação de alimentos. A indústria, percebendo essa tendência de consumo, tem disponibilizado no mercado algumas opções de produtos para facilitar a vida das pessoas, garantindo qualidade e segurança. O segmento que mais cresce na indústria do café é o de single cups (doses únicas). A preparação do café pode ser feita em casa ou no escritório, em aproximadamente 30 segundos, pois só necessita colocar a cápsula ou sache dentro da máquina e apertar um botão. Além da praticidade oferecida, as indústrias se preocupam em oferecer café com qualidade superior aos demais cafés torrados e moídos. Os cafeicultores também precisam acompanhar as tendências de consumo. Há muito tempo, já se fala de certificação e qualidade, mas essas tendências estão mais fortes do que nunca, por isso é importante oferecer grãos com essas características.

 

Embrapa Café: Que fatores predominantes estão influenciando o aumento do consumo no Brasil? Qual o perfil desse novo consumidor? Que tipos de café estão conquistando espaço?

Luiz Gonzaga: Um dos fatores predominantes que influencia o consumo do café é o aumento da renda do brasileiro, permitindo mais exigência quanto à qualidade e diferenciação da bebida. Além disso, a redução do tamanho das famílias e dedicação a atividades como trabalho e estudo também contribuem para a mudança nos hábitos do consumidor, uma vez que necessitam de refeições mais rápidas e práticas, acompanhando um ritmo de vida cada vez mais dinâmico.

 

Embrapa Café: De acordo com os estudos do Bureau, é possível apontar os principais desafios e oportunidades para os cafés arábica e conilon do Brasil?

Luiz Gonzaga: O grande desafio para a produção de arábica são os custos. Os cafeicultores precisam utilizar mais e melhor as ferramentas de gestão. É impossível controlar os preços no mercado internacional, por isso os cafeicultores precisam fazer o que está ao seu alcance: reduzir custos e elaborar estratégias de venda. As oportunidades estão na demanda cada vez maior por grãos especiais e certificados. Quanto ao conilon, o desafio é continuar aumentando a qualidade e a produtividade. Para o estado de Rondônia, a oportunidade é imensa. Lá a produtividade ainda é muito baixa, mas já se observa rápida evolução.

Embrapa Café: A UFLA inaugurou em junho a Agência de Inovação do Café, a InovaCafé. Quais os objetivos, parceiros envolvidos e o que se espera de suas ações?

Luiz Gonzaga:A InovaCafé foi idealizada para ser um ecossistema inovador e empreendedor do agronegócio café. Assim, a integração de competências e ações passa a ser condição básica para alcançar esse resultado. Nesse sentido, a Agência irá congregar todas as competências desse setor produtivo da UFLA, integrar as existentes em outras instituições e construir uma perfeita sinergia com as demandas do setor privado. Para que isso ocorra, já está programado um workshop para a definição do seu planejamento estratégico. Todas as representações da cadeia produtiva serão convidadas a participar e contribuir.

 

Embrapa Café: A respeito dos países com grande potencial de consumo (China, Índia, Indonésia e Filipinas), como o Brasil está se preparando para conquistar esses mercados?

Luiz Gonzaga: A verdade é que o Brasil não está se preparando para esses mercados. Pelo menos não da forma como deveria. A divulgação dos nossos cafés em feiras internacionais tem sua importância, mas é preciso muito mais. Boas estratégias seriam a criação de acordo bilaterais com esses países e campanhas de marketing nas redes sociais.

 

Para saber mais sobre o Bureau de Inteligência Competitiva do Café – Relatório Internacional de Tendências do Café acesse:

http://icafebr.com.br/

E informações sobre as consorciadas; dados estatísticos de produção, consumo, exportação e estoque; pesquisas sobre tendências de consumo, análise de mercado, entre outros, acesse o site do Consórcio Pesquisa Café:

http://www.consorciopesquisacafe.com.br/

 

Gerência de Transferência de Tecnologia

Texto: Flávia Bessa – MTb 4469/DF e Lucas Tadeu Ferreira – MTb 3032/DF

Contatos: (61) 3448-1927 e Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.